Mesmo antes das sete horas da manhã o sol já dava sinais de que castigaria a cidade com mais um dia de verão. Quando se está a cem quilômetros da costa e 800 metros de altitude, o verão não é a mais agradável das estações do ano. Principalmente nos dias de trabalho.
Logo cedo o ônibus está cheio, mesmo no primeiro ponto. Claro.
O casal , depois de quinze minutos de silêncio na fila , conseguiu um lugar duplo nos últimos bancos do ônibus.
Nada como acordar duas horas antes do horário de trabalho e enfrentar uma fila em pé para , nos dias de sorte , arrumar os lugares em cima do motor do ônibus.
Principalmente num dia de calor como aquele.
Quando se está suando antes das sete horas da manhã, apenas de ficar numa fila, a situação é realmente complicada.
Mais implacável do que na rua, o calor dentro do ônibus apenas agregou mais um fator de irritação para o casal em silêncio. Até o motorista ligar o motor, nenhum dos dois ousou começar a conversa. Ao mesmo tempo, os dois sabiam muito bem que a conversa era tão inevitável como as gotas de suor que insistiam em rolar nos seus rostos.
Com o movimento do ônibus um certo alívio diminuiu o desespero pelo calor, mas logo o abafamento sujo do motor envolveu o casal, agora mais desconfortáveis ainda.
Ela olhava para a janela, limpando o suor com um lenço. Ele olhava para baixo, secando a testa com a própria camisa. O pior do calor era quando o vento de alívio do movimento do veículo era contrastado pelos sinais vermelhos. Quando o ônibus parava tudo parecia pior, o sol parecia aproveitar o momento e castigá-los com mais força.
O rapaz, ainda suando e olhando pra baixo, esboçou uma pergunta.
- Você tem certeza ?
A garota continuava olhando pela janela, para o movimento dos carros na avenida. As gotas de suor já se misturavam com algumas lágrimas. Ela secou suor e lágrimas, e ele percebeu.
Mesmo assim ele tentou:
- Eu podia ...
Mas ela soluçou, e ele parou de falar. Continuava olhando para baixo, para o chão sujo do ônibus.
O sol entrava pela janela, se misturava ao calor do motor e castigava os passageiros. O rapaz já desistira de secar o suor que lhe descia a testa.
Nenhuma gota de lágrima descera, e para ele todo aquele calor era apenas externo.
Ele estava frio e desconsolado. Seu coração estava gelado, e ainda não eram sete horas da manhã quando a garota saiu do ônibus.
Ele ficou, sentindo-se muito mais gelado, com as gotas de suor correndo livremente pela sua testa no calor do verão.