quinta-feira, 5 de março de 2009

Fantástico


Domingo.
Noite.
Lição de casa para fazer.
Fantástico na televisão, volume baixo e nada a ser ouvido.
Gabriel está deitado no sofá, tentando reunir forças para fazer a lição de Geografia. Nada poderia ser mais desanimador do que aquilo.
Na verdade algo poderia sim, e estava acontecendo a poucos metros de Gabriel, no quintal da casa.
A sala era iluminada apenas pela televisão, e os sons vinham do quintal. Gabriel tentava desviar a atenção, mas o Fantástico não ajudava. Ele não conseguia parar de ouvir a briga dos pais no quintal.
No começo as palavras eram ríspidas mas curtas. Agora a briga era composta por longas frases gritadas e seguidas de xingamentos.
Gabriel tentava pensar na estúpida lição de Geografia, mas continuava inerte, deitado no sofá com o controle remoto na mão. A briga era a trilha sonora para as imagens nauseantes do Fantástico.
As vozes do pai e da mãe ecoavam na sua cabeça, e ele começava a se sentir inquieto. A discussão estava mais acalorada e certamente os vizinhos ouviam o que se passava. Gabriel tentou se lembrar da alegre festa de Natal, três meses antes, mas a tentativa só resultou em uma sensação extremamente desagradável.
Por alguns instantes, silêncio. Na televisão o Fantástico continuava.
O silêncio é quebrado pelos passos da mãe de Gabriel, que atravessa a sala chorando. Ele finge estar dormindo no sofá, mas se sente ridículo.
Gabriel, sem saber o que fazer, continua deitado no sofá. Ele ouve ao fundo o motor do carro. Também ouve o girar da chave na porta do quarto dos pais.
Aumenta o volume e o Fantástico agora tem vida, enquanto que as noites de domingo seguem sendo desconfortáveis.

2 comentários:

  1. putz... o fantástico já é algo desanimador...

    com "ajudas" como essa então... é foda >.<

    abraço, Santana!

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  2. briga de pais: tipicamente desanimador neh

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