quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O quê da infância



Dois médicos se encontram depois do expediente, num bar próximo à clínica.
'' O que você está achando da pediatria? '', pergunta o mais velho.
Depois de um gole do suco de maracujá, o mais jovem responde.
'' Eu ainda não entendi meu fascínio pelo universo das crianças, principalmente porque apesar da alegria e satisfação que eu sinto por trabalhar com elas, tudo isso vem junto com um sentimento estranho.''
O médico mais velho esboça um pequeno sorriso.
'' Eu cuido de crianças há quarenta anos e ainda não decifrei esse mesmo mistério. Esse tal sentimento estranho seria um misto de nostalgia, tristeza, saudade de algo indefinido, sensação de impotência ante a velocidade do tempo? ''
O jovem concorda com a cabeça, e continua.
'' Eu ouço aqueles garotos e garotas falando sobre as lições de casa, os desenhos animados da televisão, as brigas na escola, os presentes de natal, os almoços com os avós... e fico pensando, um tanto quanto assustado - será que eu sequer me lembro de quando a vida era tão simples? É a resposta que me deixa mais apreensivo. Toda essa inocência ficou tão longe, tão isolada num lugar da mente, que parece que ela nunca existiu, e que se existiu foi numa pessoa diferente. ''
O médico mais velho percebeu o tom de tristeza na voz do colega.
'' Mas de fato você era uma pessoa diferente nessa época de uma vida simples, inocente e sem complicações, só que nós nos transformamos, como tantos seres na natureza. Essa nova pessoa para a qual nos transformamos, contudo, é um reflexo, mesmo inconsciente, da vida de criança. Por mais que a gente não se lembre claramente desse período, ele existiu, faz parte da gente e para sempre vai definir quem somos. ''
O suco de maracujá estava acabando, e o médico mais jovem tinha uma expressão resignada.
'' Se elas soubessem como as coisas mudam depois de alguns anos. ''
Já se levantando, o outro médico estende a mão para se despedir do amigo.
'' Nem que a gente conte, elas nunca vão saber. É essa a graça de ser criança. ''
O jovem médico concorda com um olhar, e fica no bar depois que o amigo vai embora.
Ele ainda pensa na infância, olhando aqueles adultos à sua volta.

4 comentários:

  1. "será que eu sequer me lembro de quando a vida era tão simples? É a resposta que me deixa mais apreensivo. Toda essa inocência ficou tão longe, tão isolada num lugar da mente, que parece que ela nunca existiu, o que se existiu foi numa pessoa diferente."

    Preciso comentar mesmo? hahaha
    Lindo!

    Beijos Thi! :P

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  2. hahahah
    talvez seja esse um dos motivos p/ odiar crianças? >.<

    abraçooo

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  3. vendo por esse lado... ate parece que eu num tive infancia...credo

    adorei aki^^
    abraços

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  4. Você tem algum trauma de infância?

    Foi violentado por algum velho?

    Europa ou JUCA?

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