domingo, 18 de janeiro de 2009

Amor ?


'' Você ama alguém ? ''

'' Claro. Minha mãe e meu pai. ''

'' Não esse tipo de amor. ''

'' Não sei, talvez sim, talvez não... ''

'' Por que talvez ? ''

'' Amar e não ser amado conta ? ''

'' Acho que pra quem ama conta, certo ? ''

'' Pode até contar, mas é algo pela metade. Não dá pra saber. ''

'' Há quem diga que o verdadeiro amor é o não correspondido, porque não é egoista. Ele quer para a pessoa amada o melhor, mesmo longe de quem ama. ''

'' Isso é apenas uma utopia hipócrita; o amor pra ser completo precisa da presença da pessoa amada. ''

'' Então o que acontece com o amor não correspondido ? ''

'' Ele vira remorso, angústia, uma sensação de desconforto. ''

'' Não pode virar amizade, companheirismo ? ''

'' Lembra o que eu falei sobre utopia hipócrita ? ''

'' Hmm... ''

'' Eu amo minha mãe e meu pai. ''


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Gone For Good



He felt a strange feeling when the alarm clock took him out of the same dreams. He couldn't wait to do what he was going to do, but he knew it wouldn't turn out well.
His shoulders were heavy with anticipation; there was no positive perspective whatsoever for his plans.
However, he was convinced to try.
As ususal, his mother was in the kitchen and breakfast was on the table. His stomach was in knots, so there was no way he could even have a bite.
“There's no way you´re getting out of this house on an empty stomach, young man,” said his mother when he attempted to skip the meal.
According to her, school was a very demanding activity, and a 15-year old should always be well fed.
Despite his protests, he was forced to at least have a glass of milk.
“What's with the worried look, anyway?” she asked while he swallowed the milk.
“Not a bad grade in Math again, I hope. For your own good.''
He heard the warning and for a moment wished school was his concern again; at least he'd never had those heavy shoulders over school problems.
Carrying his clouded mind he headed for school, heart beating fast and hands sweating.
Somehow he already knew what would happen later that day; he knew it would be awful; he knew it would make him sad; but he also knew he couldn't stand any other day feeling that way.
He had to get it over with.
As the big gray building approached, he got more nervous; it meant a lot more to him than just the facility where he had classes.
He walked all the way from his house looking down, thinking, trying to imagine it would be just another ordinary day.
Ever since he saw her, nothing about school was ordinary anymore. Six months had gone by, and the new girl was the main topic in everybody's conversations.
For him, however, she was not a topic. She was the reason for his uncontrolled sweating, the crazy heartbeats and the tears in his eyes.
The first time he saw her he went into a kind of coma. He couldn't move, he couldn't listen, he couldn't talk.
He could only see her.
Surrounded by her new-found friends, she was popular, of course.
First day in a new school and she already had company during the break..
Unbelievable.
She was his classmate, but didn't know he existed.
He was her classmate, and everyday he saw Heaven when he looked into her eyes. They had exchanged a couple of polite words of ''hi'' and ''bye'', of course, but nothing that lasted more than half a second.
They were enough, though, to make him want to get up the next morning and run to school.
She sat in the back of the classroom, so he had to cautiously turn back to be able to see her.
She was so beautiful that he was embarrassed even to look at her.
Her beauty made him sad, in a deep way.
It would reach so deep into his soul that he lost his ground.
He had never felt sad because of somebody's beauty, and with her it happened everyday.
It took him these six months to have the guts to talk to her, and it had to happen after class.
As soon as he walked into the classroom, he knew she was there; he always did.
The hours and the classes dragged themselves as slowly as possible, and he was numb from the nervousness.
The bell rang and his feet became too heavy to be moved, exactly like everytime she was around.
He saw her walking out, and the sight of her hair flying in the air made him sad again; she was too perfect to be real, and there was nothing he could do not to feel that way for her.
At that age he didn't know what love was, but he surely loved her.
After gathering the strength to get up, he followed her from a safe distance. He knew by heart her steps after class; she would talk to her friends for a couple of minutes then she would leave school and walk two blocks until the bus stop.
But he noticed something unusual that day; it was taking her too long to finish the post school conversation and go to the bus stop.
He was about ten meters away from her and her friends, sitting on the floor pretending to be reading a book.
The minutes rolled slowly by, and he felt his fears from the morning quickly growing into a huge shadow that pressed his heart. As her friends left one by one, she stayed there, until there was only a boy with her, all talkative and confident.
From behind his book, covered by the distance, he wanted to sink into the ground when he figured what was going on.
His fears were not just a shadow now, they were a faceless monster creating a black hole around him.
He turned up his head, just a little over the book, and they were still there, talking.
The two of them breaking a stranger's heart.
He closed his eyes and prayed for an instant.
The voices in his head screamed for him to keep his eyes tightly shut; the monster outside ordered him to open them.
And he did. He opened his eyes.


Just in time to see the boy's hand grab her neck and pull her head closer.


Just in time to see the way both of them turned their heads.


Just in time to see her wrap her arms around the boy.


Just in time to see how they stared at each other when their faces approached.


Just in time to see them kiss.


He closed his eyes again. He felt the monster slowly smashing his heart.
He lost track of time in that black desert of closed eyes. He wanted to move to another dimension.

When he opened his eyes once again, he was alone.

They were gone.

And he was still there.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Manhã de Sábado



Para um garoto de 15 anos, as manhãs de sábado são reservadas para o sono. Depois de cinco dias acordando antes das sete horas, o sábado só começa depois do meio dia.
Mas nos dias quentes de Janeiro, as manhãs de sábado voltam a existir para Gabriel, de férias da escola.
Passadas as festas e viagens de natal e ano novo, os dias em casa passam a exercer um estranho efeito sobre Gabriel.
Mesmo com as ocasionais saídas com os amigos e as animadas partidas de videogame , ele passou a sentir algo que o perturbou bastante. Os dias em casa ficam cada vez mais longos; as horas se arrastam e ele demora a pegar no sono.
O momento em que ficou mais assustado foi quando chegou à conclusão de que estava com saudades da escola. Com certeza não das aulas intermináveis de física e matemática, nem de alguns professores, mas de tudo que envolvia o ambiente escolar. A conversa no pátio antes das aulas, as brincadeiras na aula de religião, as lições de casa copiadas às pressas nos corredores, a correria do recreio para conseguir um salgado na cantina, até mesmo da tensão antes das provas.
Tudo isso ficava mais claro para Gabriel nas manhãs de sábado.
Além dos afazeres domésticos, ele não tinha muito o que fazer em casa; apesar de não cumprir os deveres com entusiasmo, Gabriel nunca reclamou de ter que lavar a louça todos os dias, limpar a sujeira dos cachorros no quintal e alimentar os gatos.
Nas manhãs de sábado , como todos estavam em casa, a mãe de Gabriel costumava coordenar o trabalho, já que o pai também participava.
Lavando a louça, varrendo o quintal, Gabriel pensava. Pensava bastante.
Chegava mesmo a sentir um vazio, um tipo de tristeza que ele não entendia, principalmente quando fazia suas atividades domésticas ouvindo '' This Year's Love'' , cantada por David Gray, nos fones enormes do tocador de mp3, que cobriam suas orelhas.
Os pais, evidentemente, não sabiam de nada.
'' Vou falar o quê ? ''

Mas uma dessas manhãs quentes dos sábados de Janeiro foi diferente.
Gabriel acordou e desceu para a cozinha; a louça do jantar de sexta ainda estava suja na pia. Era estranho, mas como na divisão de trabalhos domésticos a louça da noite era responsabilidade da mãe, Gabriel não deu muita importância ao fato.
Ainda sonolento, ele demorou para perceber que já passavam das dez horas. Quando se deu conta do horário, passou a comer com pressa.
'' Dez horas ? Ninguém me acordou... ''
A mãe de Gabriel sempre o acordava cedo aos sábados.
Engoliu os últimos goles do achocolatado e já estava se levantando da cadeira quando seu pai apareceu na cozinha. O garoto abaixou a cabeça, para dar uma desculpa e falar que já estaria indo limpar o quintal.
No meio da frase o pai se aproximou dele e o pegou pelo braço; Gabriel parou de falar quando notou que o pai usava calça jeans, tênis e camisa. Aquelas roupas era de quem ia sair ou estava voltando para casa; nas mãos ele tinha as chaves do carro.
'' Coloca uma calça e um tênis e me encontra na garagem.''
'' Agora ? '', perguntou Gabriel.
O pai apenas balançou a cabeça, soltou seu braço e saiu.
Confuso, Gabriel subiu correndo as escadas e se trocou. Ao sair de seu quarto uma curiosidade o levou a olhar para o quarto dos pais, que tinha a porta fechada. Lentamente Gabriel empurrou a porta, e achou muito estranho quando viu sua mãe deitada na cama, aparentemente ainda dormindo, àquela hora de uma manhã de sábado.
Fechou a porta e foi para a garagem. O carro já estava na calçada.
O caminho foi quase todo percorrido em silêncio, Gabriel não sabia muito bem o que perguntar.
'' Por que a mãe não veio ? Ela ainda estava dormindo; ela sempre é a primeira a acordar...''
O pai balbuciou algo que Gabriel não entendeu.
'' Aonde a gente vai ? ''
'' Quero te mostrar um lugar. ''
Gabriel olhou para a janela, estavam num bairro que ele não conhecia. Passaram por uma praça onde algumas crianças brincavam, algumas lojas, supermercados, uma rua de casas parecidas, até que pararam num prédio.
O portão abriu e o carro desceu para o estacionamento subterrâneo.
Entraram no elevador, ainda em silêncio. O pai de Gabriel parecia preocupado.
Saíram do elevador no oitavo andar, e foram para o apartamento 82.


Entraram.


A sala tinha apenas um sofá velho e um televisor em cima de uma caixa.
'' Agora eu quero que você me ouça com atenção. Eu e sua mãe estamos nos separando, a partir de hoje eu moro aqui. Ainda falta trazer um monte de coisas pra cá, mas o apartamento vai ficar decente. Quero que você entenda bem que eu não estou abandonando vocês; eu apenas não moro mais na mesma casa, mas continuo sendo seu pai e a gente vai se ver sempre. ''

Gabriel achou estranho a indiferença que sentiu ao entender o que o pai estava explicando. Já tinha ouvido falar muito daquilo, alguns de seus amigos até já tinham pais separados, mas naquele momento só quis voltar para casa.
Aquele apartamento definitivamente não era sua casa.
Aquela manhã de sábado já estava quase acabando, quente como sempre em Janeiro.
Gabriel se sentiu subitamente mais velho, não lembrava mais da escola, das lições de casa feitas às pressas nos corredores, das tentativas de colar nas provas, nem das partidas de videogame.
A manhã de sábado dava seus últimos suspiros, a tarde já vindo tomar seu lugar.
Gabriel suspirou, sem querer encarar o pai.

'' Eu preciso ir limpar o quintal. ''
********************************************************
'' This Year's Love '' (David Gray)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O quê da infância



Dois médicos se encontram depois do expediente, num bar próximo à clínica.
'' O que você está achando da pediatria? '', pergunta o mais velho.
Depois de um gole do suco de maracujá, o mais jovem responde.
'' Eu ainda não entendi meu fascínio pelo universo das crianças, principalmente porque apesar da alegria e satisfação que eu sinto por trabalhar com elas, tudo isso vem junto com um sentimento estranho.''
O médico mais velho esboça um pequeno sorriso.
'' Eu cuido de crianças há quarenta anos e ainda não decifrei esse mesmo mistério. Esse tal sentimento estranho seria um misto de nostalgia, tristeza, saudade de algo indefinido, sensação de impotência ante a velocidade do tempo? ''
O jovem concorda com a cabeça, e continua.
'' Eu ouço aqueles garotos e garotas falando sobre as lições de casa, os desenhos animados da televisão, as brigas na escola, os presentes de natal, os almoços com os avós... e fico pensando, um tanto quanto assustado - será que eu sequer me lembro de quando a vida era tão simples? É a resposta que me deixa mais apreensivo. Toda essa inocência ficou tão longe, tão isolada num lugar da mente, que parece que ela nunca existiu, e que se existiu foi numa pessoa diferente. ''
O médico mais velho percebeu o tom de tristeza na voz do colega.
'' Mas de fato você era uma pessoa diferente nessa época de uma vida simples, inocente e sem complicações, só que nós nos transformamos, como tantos seres na natureza. Essa nova pessoa para a qual nos transformamos, contudo, é um reflexo, mesmo inconsciente, da vida de criança. Por mais que a gente não se lembre claramente desse período, ele existiu, faz parte da gente e para sempre vai definir quem somos. ''
O suco de maracujá estava acabando, e o médico mais jovem tinha uma expressão resignada.
'' Se elas soubessem como as coisas mudam depois de alguns anos. ''
Já se levantando, o outro médico estende a mão para se despedir do amigo.
'' Nem que a gente conte, elas nunca vão saber. É essa a graça de ser criança. ''
O jovem médico concorda com um olhar, e fica no bar depois que o amigo vai embora.
Ele ainda pensa na infância, olhando aqueles adultos à sua volta.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Um velho na estrada


Caminhando na estrada, encontrei um velho.

Ele andava hesitante, ombros pesados.

Seu olhar era distante, melancólico.

O velho não sabia do que sentia falta.

Ele se lembrava de uma época tão boa.

Dos dias de brincadeiras tolas.

Das noites sem dormir pelas provas.

O velho secava os olhos ao lembrar dos amores.

As meninas do colégio, as brigas do colégio.

Para o velho, tudo parecia tão distante.

Parado na estrada, o velho olhava para trás.

Para o velho, a estrada só ia para frente.

Mas ele podia parar.

Parar e olhar para trás.

Ele sentia vontade de entender o passado.

Porque o passado era tão melhor.

O velho não tinha medo de morrer.

Continuaria na estrada, para frente.

Sabia que o passado guardava tanto.

Principalmente uma sensação de novo.

O sabor da novidade.

Isso ele nunca mais encontrou.

Na estrada, esperava encontrar.

Sabia que o caminho era longo.

Para frente.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Entreatos


Uma vida de coincidências

Talvez caminhos cruzados

As vezes rotas em colisão

Olhares que se encontram

Entre tantos outros, os olhos se atraem

Um grito no silêncio

Que encontra um ouvido atento

Aquela mão voando sozinha

Repousa e se encaixa perfeitamente

Naquela outra, nunca antes vista

Mas o encaixe é tão perfeito...

Elas se fecham suavemente

E parecem repousar, numa harmonia completa

O acaso as apresentou,

Mas elas escolhem continuar

Unidas

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Worth a thought


I don't know what love is all about

Maybe it's about the feeling of holding on

Two hearts that beat at a glance

The sweat from touching her hand.

A life better lived than dreamed

Love may also be a belief in something

A story that finds its beginning

But lets us write it free hand

Could love be more than we can stand?

I don't know what love is all about.

But love sure deserves a thought.